sexta-feira, 26 de março de 2010

A indústria cultural

Resumo: ADORNO, Theodor W. A indústria cultural.

O termo indústria cultural diferencia-se da expressão “cultura de massa” por essa tratar de uma cultura que surge espontaneamente nas massas, diferentemente do propósito da indústria cultural, que pretende juntar elementos culturais existentes há muito tempo e atribuir-lhes uma nova qualidade. A indústria cultural dita o consumo das massas ao produzir produtos adaptados a ela, constituindo um grande sistema. Mas apesar disso as massas não são o sujeito dessa indústria, mas sim o seu objeto.
As mercadorias culturais da indústria se orientam segundo o princípio de sua comercialização e toda a criação é motivada pelo lucro. As mercadorias precisam assegurar a estabilidade financeira de seus produtores no mercado. As produções no estilo da indústria cultural são apenas mercadorias, mas não se deve pensar literalmente no termo indústria. Ele diz respeito à padronização do produto, aprimoração das técnicas de distribuição, mas não se refere especificamente ao processo de produção, que na indústria cultural se dá tanto de forma técnica, com utilização de máquinas e divisão do trabalho, como de forma individual.
A indústria cultural mantém relação de afinidade com o comércio, no qual utiliza um sistema de desumanização da ação e do conteúdo a fim de fazer uma propaganda bem sucedida. Por essa razão há um grande número de investimentos inadequados nessa indústria, que possui setores tecnicamente ultrapassados, não conduzindo a uma melhora. Para defender-se dessa crítica os promotores da indústria da cultura alegam que eles fornecem apenas indústria e não arte. Em sua ideologia, a indústria cultural se isenta de tirar as consequências de suas técnicas sobre o resultado final de seus produtos. Ela vive sem se preocupar com os efeitos da má determinação da sua objetividade e sem respeitar a formalização da estética, o que resulta numa mistura, essencial para caracterizar a essa indústria.
Algumas discussões são levantadas pela indústria cultural, como sua importância para a formação da consciência de seus consumidores. Em vista desse papel social que desempenha, sua qualidade, verdade e vulgarizações estéticas são constantemente criticadas. Entre os intelectuais há certa acomodação em relação a essas questões. Eles acreditam que os romances de folhetins, os filmes de confecção e espetáculos televisionados são inofensivos e democráticos, atendendo a uma demanda, mesmo que pré-estabelecida.
A consciência dos consumidores está dividida entre o lazer oferecido pela indústria cultural e a constante dúvida sobre seus benefícios. A defesa mais aprimorada dessa indústria coloca como fator de ordem sua ideologia. Seus representantes pretendem que essa indústria forneça critérios para a orientação dos homens. Aquilo que em geral se poderia chamar de cultura queria fixar a ideia de uma vida verdadeira, mas não queria representar como vida verdadeira simplesmente a existência, que é como a indústria cultural a veste.
As ideias de ordem que a indústria cultural faz penetrar a força são aceitas sem objeção, sem análise. Ela exprime que “você deve submeter-se”, mas sem indicar a quê. Jamais a ordem transmitida por ela é confrontada com o que ela pretende ser. Mas a indústria cultural, despreocupada com tal fato, vende a ordem abstrata, pretendendo apresentar aos homens, de maneira enganadora, os conflitos que eles devem confundir com os seus, e ela os resolve apenas na aparência, pois não seria possível resolvê-los na vida real.
As reflexões da indústria cultural não são regras para uma vida feliz. O sistema da indústria da cultura reorienta as massas, não permite a evasão e impõe incessantemente os comportamentos. As massas não vêem e aceitam o mundo tal como ele lhes é apresentado pela indústria cultural. Mesmo se as mensagens dessa indústria fossem tão inofensivas como se diz, seu comportamento está longe disso. Se um astrólogo incita seus leitores a guiarem cuidadosamente seus carros num determinado dia, isso certamente não lhes será prejudicial; prejudicial é a estupidez implícita nesse conselho, que poderia valer para qualquer outro dia e que não requere consulta aos astros.
Os últimos objetivos da indústria cultural seriam servidão e dependência dos homens. A satisfação que essa indústria oferece às pessoas ao despertar nelas a sensação de que o mundo está em ordem, gera frustração ao proporcionar uma felicidade ilusória. O efeito de conjunto da indústria cultural é impedir a formação de indivíduos autônomos, capazes de decidir conscientemente. Ao mesmo tempo em que as massas são injustiçadas pela indústria cultural, é essa indústria que as transforma em massas.

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