sexta-feira, 26 de março de 2010

Ditando novos padrões

RESENHA: DEMÉTRIO, Silvio Ricardo. Jornalismo Contracultural. Site da Academia Brasileira de Jornalismo Literário, São Paulo, 10 jun. 2004. (Leia o artigo na íntegra aqui)

O debate a respeito de uma nova forma de se fazer jornalismo, fugindo e contestando os padrões contemporâneos permeia o artigo de Silvio Ricardo Demétrio titulado “Jornalismo Contracultural”. Autores como Balzac, Leminski, Wolfe, Foucault, Nietzsche, Maciel e Torquato Neto ajudam a problematizar o confronto entre um novo discurso jornalístico e os padrões atuais da linguagem jornalística.
A expansão do mercado editorial no século XIX colocou frente a frente a literatura e o jornalismo, abrindo espaço para a discussão sobre a legitimação do discurso de cada um. Segundo Leminski, o naturalismo seria o valor atribuído ao jornalismo, onde o conteúdo é determinante sobre a forma e as perspectivas existem, mas são cuidadosamente camufladas de modo que parecem objetividades. Isso nos dá a falsa sensação de que o jornalismo retrata as coisas tal como elas são.
O discurso jorno/naturalista é embasado no poder, sendo absolutamente ideológico em favor de uma determinada classe social. Sua normatização, portanto, segue os valores de poder, onde o que importa não é o que a manchete vai representar para o mundo, mas o que vai representar nas vendas do jornal.
O New Journalism se caracteriza por uma atitude crítica em relação aos modelos convencionais. Seu texto traz conteúdo referencial e sua forma é tratada como artifício. Wolfe diz que só uma obra aberta, que desperte no leitor sua inteligência, consciência e sentidos é verdadeiramente democrática e para tanto precisa ser escrita com criatividade. O texto jornalístico como conhecemos é controlador, subjetivo e nos torna passivos diante dos fatos.
Essa problemática chega ao Brasil trazida pelos autores Edvaldo Pereira Lima, Fernando Resende, José Salvador Faro e Marcos Faerman. Há um consenso entre eles de que o New Journalism é uma referência para a ruptura com o modelo de texto noticioso que se disseminou nas redações brasileiras em 1940. Maciel e Torquato Neto são os grandes nomes do que se pode chamar de jornalismo contracultural brasileiro. Ambos possuíam um discurso jornalístico enlouquecido, fragmentado, poético, nanico e marginal, e é exatamente essa ruptura com os padrões que liberta o jornalismo da pura informação e permite a ele novas experimentações diante das tecnologias.
Na web, por exemplo, a informação ainda comanda os textos jornalísticos em sua forma. O lead, que antes era usado devido à precariedade do sistema, hoje é usado devido à demanda de urgência e rapidez impostas pela internet. O modelo tecnicista não foi deixado de lado mesmo quando o novo meio pedia uma nova lógica da informação. Não há dúvidas de que técnicas como o lead e a pirâmide invertida são eficientes na construção da notícia, mas o contexto em que elas se desenvolveram evoluiu, modificou-se.
O jornalismo precisa de um novo horizonte ético que se idealize a partir de um sentido crítico e não democrático; que não tente atender ao equivocado e contraditório “bem comum”, que mantenha a linha de fuga traçada pelo New Journalism e por Torquato Neto e Maciel; que seja alternativo e que busque a liberdade de questionar os aspectos que permeiam a nossa vida.

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