quarta-feira, 21 de abril de 2010

Minha primeira publicação em um jornal

Hoje fiquei imensamente feliz ao ver meu artigo publicado no jornal local de Cascavel e ao receber, por e-mail, cumprimentos por ele. Me sinto na obrigação de deixar isso registrado aqui no blog :)

Pedaladas de ouro


Ufa, minha reportagem finalmente está pronta :)
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Pedaladas de ouro
Conheça os protagonistas do esporte que já levou Cascavel e o Brasil ao lugar mais alto do pódio várias vezes.


O ciclismo tem a sua origem em uma corrida no mínimo curiosa. Em 1842, um dos inventores da bicicleta, o escocês Kirk Patrick MacMillan, apostou uma corrida com um cocheiro. MacMillan acreditava que sua invenção era capaz de percorrer 154 km - de Glasgow à Carlisle, na Escócia - mais depressa do que a carruagem. Ele estava certo.

Desde então, a bicicleta evoluiu, e muito. Hoje o equipamento com todos os aparatos necessários para a prática profissional do esporte pode custar até 12 mil reais! Isso por que é uma bicicleta projetada para competições e, portanto, precisa ser leve, firme e resistente à força e ao impacto. O preço justifica-se pelo material: fibra de carbono trançada, a mesma matéria-prima utilizada pelos carros da Fórmula 1. Aliás, essa é, infelizmente, a única semelhança entre esses dois esportes. Após mais de um século e meio de história, o ciclismo ainda clama por mais incentivos.

Mesmo com algumas pedras e buracos no caminho das bicicletas, Cascavel é a casa do protagonista de uma trajetória cheia de pódios no ciclismo. Jovem, recém saído do Exército Militar e com formação para o exercício da profissão de torneiro mecânico, ele nem imaginava que chegaria tão longe. Deu as primeiras pedaladas profissionais aos 19 anos, competindo e ganhando nas etapas regionais do Campeonato Paranaense. No ano seguinte, 1998, integrou a equipe principal de Cascavel e ajudou na conquista dos Jogos Abertos. Vitórias foram se seguindo e o destino parecia certo: em breve seria reconhecido! O destino, de fato, se cumpriu, mas não foi nada fácil.

No ano de 2000, ele quis abandonar a carreira. Faltavam patrocínios. Nessa hora apareceu seu “anjo da guarda”: um amigo empresário, que acreditou no seu trabalho e custeou seus gastos com passagem e hospedagem até São Paulo, onde morava a esperança do reconhecimento profissional. Agora a receita estava completa, com todos os ingredientes necessários para o sucesso de um ciclista: garra, determinação, perseverança e incentivo. O resultado não poderia ser diferente. Em 2001 ele fechou um contrato com a equipe de Santos e em 2005 passou a integrar a equipe de São José dos Campos. Hoje ele faz parte da primeira equipe profissional de ciclismo do Brasil e é conhecido mundialmente pelo apelido “The Flash”, – uma referência ao herói das histórias em quadrinho mais rápido do mundo - aquele que vem quietinho, escondido, mas passa tão rápido pelos adversários que eles nem ao menos conseguem ver.

Eles são os integrantes mais jovens da equipe de ciclismo Juventus/Semel de Cascavel. Um tem apenas 13 anos e o outro 15. Os pais, que também pedalam, foram a referência para iniciarem nesse esporte. Sentem dificuldades quanto ao preparo físico, afinal, pedalar 120 quilômetros por semana não é pra qualquer um. Fora dos treinos eles levam uma vida normal para os garotos da idade deles: se preocupam em tirar boas notas no colégio, jogam futebol e fazem curso de informática. Isso sem descuidar da alimentação. São meninos sonhadores e decididos: “quero ganhar as competições, ter um nome no ciclismo”. Em relação ao patrocínio eles são otimistas. “Está bem até. A Prefeitura está ajudando, dando os uniformes. Estou achando legal pra um esporte que não é tão reconhecido no Paraná.”

Eles têm razão. Apenas a Prefeitura, através da Secretaria de Esportes e Lazer (Semel) tem incentivado a prática do ciclismo na nossa cidade. Dário Delai é técnico da equipe Juventus/Semel há mais de dez anos e diz que não há interesse por parte das grandes empresas da região em patrocinar esses atletas. O apoio que a equipe recebe do Município é fundamental, mas ainda não é o bastante. “É um apoio para pagar a inscrição, o transporte e a alimentação. Os atletas que se destacam nas competições recebem uma ajuda de custo. Para nossa equipe despontar e aparecer nacionalmente nós precisaríamos receber três vezes o valor que recebemos hoje”.
 
Ele é Nilceu Aparecido dos Santos, 32 anos, cascavelense de coração e consagrado ciclista com mais de 80 grandes títulos na carreira. Só para citar alguns: campeão da 9 de Julho (2001), campeão do Meeting Internacional de Goiânia (2004), campeão por equipe do 20º Tour de Santa Catarina (2006), campeão da Copa da República (2007), campeão Brasileiro de Resistência (2007) e tetracampeão da Copa América de Ciclismo (2005, 2006, 2007 e 2008) – sendo a prova de 2005 a mais marcante na carreira de Nilceu. Ele conta como foi: “a competição estava se encadeando para um argentino vencer a prova. Ele estava nos últimos 800 metros e tinha 150 metros de vantagem. Ninguém do pelotão de trás acreditava que poderia alcançá-lo, mas eu acreditei. Fui perseguindo ele e nos 20 metros finais da prova eu consegui a ultrapassagem. Foi uma prova emocionante por que atletas antigos, de 50 anos atrás, que estavam assistindo a competição me falaram que nunca tinham visto uma coisa igual na vida”.


Eles são Gabriel Amâncio, 13 anos e Matheus Goebel, 15 anos. Apesar da pouca idade eles também já têm boas histórias para contar. Gabriel já treina há três anos e em 2009, conquistou o 4º lugar na 3ª Etapa do Campeonato Paranaense de Ciclismo de Ponta Grossa. Ainda no mesmo ano o garoto “prodígio” ficou com o 2º lugar na Etapa Final do Campeonato Regional de Montain Bike e o 2º lugar geral na Copa Oeste de Ciclismo.




Matheus também já subiu ao pódio. No ano passado ele garantiu o 3º lugar no Duathlon Terrestre de Cascavel, prova que o impulsionou no ciclismo. “Eu me interessei mais pelo ciclismo quando pratiquei minha primeira prova de Duathlon Terrestre, onde eu percebi que no ciclismo eu ganhei posições e acabei subindo ao pódio.” Matheus também já competiu no Campeonato Regional e apesar de não ter figurado entre os primeiros colocados ficou feliz com o resultado. “Fiquei lá atrás, mas está bom pra um iniciante”.



Mesmo com histórias, conquistas e dificuldades diferentes estes três personagens estão ligados por um sentimento comum: a paixão pelas pedaladas e a vontade de viver desse esporte. Infelizmente, isso não é suficiente para levá-los ao alto dos pódios. Apesar de não ser encarado (ainda) como um empecilho pelos meninos Gabriel e Matheus, a falta de patrocínio resulta em uma ausência de participação nas competições e sem isso o atleta não consegue se destacar. E quem diz isso não sou eu, mas sim “a voz da experiência” nesse assunto, Nilceu dos Santos. Ele ainda aponta uma possível solução: “em São Paulo todos os esportes vão pra frente porque lá as empresas que estão lícitas ao invés de destinar 1% do incentivo fiscal para o governo, elas pegam essa quantia e investem em algum esporte, adotam um esporte. Tem muita empresa grande aqui da região que podia fazer o mesmo. Eles só vão ter vantagens, por que a marca deles vai ser divulgada em vários meios de comunicação”. Essa é uma solução irritantemente fácil e simples! Cascavel não pode se limitar a ser a região do agro-negócio. Nossa terra é muito fértil e também dá vários outros frutos maravilhosos, que não devemos esquecer de cultivar.

Além da questão financeira, o ciclismo da região Oeste do Paraná parece enfrentar uma outra (e grande) dificuldade: uma espécie de preconceito com aqueles do interior. Apesar de ter alcançado o patamar mais alto do ciclismo nacional, “The Flash” ainda se sente esquecido. “A minha maior frustração é ter me dedicado todo esse tempo ao ciclismo (mais de 13 anos), com o currículo invejável que eu tenho e nunca ter participado de uma seleção para os Jogos Pan-americanos, Sul Americanos ou para um Mundial. Todo atleta tem o sonho de participar de uma Olimpíada. Não sonhamos nem em ganhar, mas só em estar lá e ser um atleta olímpico. Eu tive todo o potencial para isso. Em 2007 eu era o melhor do ranking, tinha ganhado sete competições até o Pan-americano e não participei do Pan do Brasil. Isso aí, às vezes, é desanimante. O atleta luta a vida inteira para chegar ao nível mais alto e não consegue representar o país.”

O que poderia ter motivado este fato? Deixar de lado um “monstro” do ciclismo, que com certeza traria inúmeras alegrias para toda uma nação que se nutre de esportes me parece algo impensado. Talvez falte uma percepção maior do que é esse esporte, de como os atletas se sacrificam em busca de bons resultados. É um trabalho de domingo a domingo, incluindo os feriados. São centenas (eu disse CENTENAS) de quilômetros pedalados toda semana, no menor tempo possível. A alimentação precisa ser rigorosamente controlada: rica em carboidratos e proteínas e evitando ao máximo as frituras. Sabe aquele prato suculento de batata frita com bife? Está totalmente fora do cardápio! Uma visita diária à academia para algumas horas de musculação também é necessária. Festas? Nem pensar! O corpo precisa de um tempo para se recuperar da intensa rotina de exercícios e esse tempo não pode ser gasto nas “noitadas”.

Esses atletas, muitos deles ainda meninos, têm dedicação exclusiva ao ciclismo e fazem isso simplesmente por amor! E sabe quais são as únicas coisas que eles realmente precisam para seguirem firmes nessa luta? A torcida, a vibração e o carinho das pessoas. Para eles, as dificuldades físicas e a falta de patrocínio são as coisas menos preocupantes. Precisamos aprender a reconhecer os verdadeiros heróis brasileiros, aqueles que superam o sofrimento e o cansaço inexplicáveis durante uma prova, vencendo chuva, sol, frio, descidas, subidas ou qualquer outro obstáculo que possa aparecer em seu caminho, com o desejo ardente de subir no lugar mais alto do pódio, carregando consigo toda uma cidade, um estado ou um país.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Nilceu dos Santos, o "The Flash"


É isso aí. Foto ao lado do "cara" do ciclismo brasileiro, o cascavelense Nilceu dos Santos mais conhecido como "The Flash", que gentilmente nos recebeu em sua casa para uma entrevista. Ele é um dos personagens da nossa reportagem sobre o ciclismo, que em breve estará concluída e aparecerá aqui no blog. Obrigada Nilceu! :)


OBS: Uma miséria de troféus, né?

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Como treinar o seu dragão



A nova animação da Dreamworks é impressionante! É definitivamente o tipo de filme para toda a família assistir. Conta a história de um menino magrelo e fraco (Soluço) que mora em uma "tribo" de grandes hérois viking matadores de dragão. Numa tentativa de se legitimar como parte da tribo, Soluço precisaria matar algum dragão também. O problema é que ele não consegue isso (devido ao seu porte físico e também ao seu sentimentalismo) e acaba se tornando amigo do "inimigo". O grande barato da história é perceber como às vezes nos comportamos de uma maneira tão acrítica na sociedade e nos sujeitamos a determinadas situações em busca de uma aceitação sem ao menos questionar qual a motivação daquilo que estamos fazendo.

Vale a pena dar uma passadinha nos cinemas e conferir esse filme :)

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Imprensa e difusão: os parâmetros que contextualizam a credibilidade

Nesse 7 de abril, Dia do Jornalista vou publicar um texto que eu e duas colegas de profissão elaboramos para a matéria de Ética no Jornalismo. É bom refletir sobre isso, nem que seja só por um dia.
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Imprensa e difusão: os parâmetros que contextualizam a credibilidade
Acadêmicos de jornalismo realizaram uma pesquisa que visa verificar a confiança das pessoas na imprensa. Diante dessa premissa, analisar a opinião de quem acredita na imprensa seria, em suma, uma tarefa prazerosa. Afinal, ouviríamos o que é que se tem feito de melhor, as qualidades do trabalho realizado e, principalmente, o reconhecimento por parte da recepção. Pena que isso fica só na teoria. Considerando os 170 entrevistados, 51,2% disseram que não confiam na imprensa, e 48,8% alegaram confiar, e o que se ouviu dos entrevistados que optaram pelo sim não foi nada animador, pelo contrário, mesmo confiando eles têm dúvidas quanto ao papel que o jornalista se propõe a desempenhar.
As dez pessoas, homens e mulheres entre 18 e 56 anos, que responderam positivamente a pergunta: você acredita na imprensa, podiam escolher apenas entre confiar, ou não confiar. E, se uma análise da imprensa em muitas palavras não é fácil, sintetizá-la em duas opções – sim ou não – é praticamente impossível. Foi por isso que toda resposta positiva, veio sempre seguida do mas. O que faltou foi um meio termo na pesquisa, o depende – depende do meio, depende do assunto, depende, depende, depende. Se essa fosse uma das opções, a análise ficaria ainda mais complicada, já que possivelmente 48,8% de “sins”, juntamente com os 51,2% dos “nãos” migrariam para esse “mais ou menos”.
O que foi possível identificar é a quantas anda o crédito da imprensa para com o público. Afinal, ninguém diz de peito estufado: "confio na imprensa". O que se nota é que a notícia se tornou um mal necessário: as pessoas escutam, assistem, lêem jornais porque se sentem obrigadas a saber o que está acontecendo no mundo. Mas sempre, com o pé atrás.


“Sim, vejo a imprensa como um mal necessário. Afinal ela joga dos dois lados para te manipular politicamente e comercialmente, no entanto é ela que mantém você a par da realidade. Em poucas palavras a imprensa é o reflexo da sociedade.”
Professora, graduada em letras, 56 anos


“Na verdade, acredito, só não confio integralmente. Sem a imprensa não saberíamos o que é fato, só saberíamos o que acontece à nossa volta. No entanto, quando penso na imprensa me vem à idéia de um jogo de interesses. È por isso que acreditar é complicado, e não acreditar é se isolar.”
Dona de Casa, com ensino médio completo, 38 anos


Nesse ponto, a confiança se torna uma questão ética. Veja bem, as pessoas não desconfiam do que elegemos como notícia e sim de como ela é tratada, como a história é contada. Essa desconfiança tem um motivo plausível: a imprensa possui um longo histórico de equívocos. Alguns deles acidentais, outros explicitamente propositais. Como exemplo, pode-se citar o caso publicado no livro “Pragmática do Jornalismo”, de Manuel Carlos Chaparro. A pesquisadora, que analisou o caso, acompanhou a produção de matérias relevantes em dois jornais do país: Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo. O primeiro caso citado no livro foi a análise de uma matéria que dizia respeito ao racionamento de água em alguns bairros de São Paulo, publicada em nove de novembro de 1989.
A empresa Sabesp, responsável pelo saneamento desses bairros, havia estabelecido um rodízio: determinado bairro ficaria quatro dias com água, e um dia sem. E o jornal a acusava de ter alterado o rodízio, sem avisar a população. A repórter Tânia Belickas foi à apuração: colheu três depoimentos de moradores, entre eles o da dentista Alda Costa Ferreira. Na matéria, Alda teria dito que armazenou água em baldes em prevenção ao racionamento, mas que no dia seguinte simplesmente não houve falta de água. Dias depois, é que acordou e verificou que as torneiras estavam secas. A repórter ainda publicou a seguinte declaração como sendo de Alda: “A Sabesp precisa se organizar melhor, assim como o país”.
A pesquisadora ouviu a dentista que desmentiu tudo o que foi publicado ao seu respeito: “Não falei isso. Pelo contrário, são tão poucos os dias em que falta água que não faz diferença. A repórter não estava ouvindo. Queria fazer uma reportagem com todo mundo dizendo que faltava água. Ficou ridículo sair publicado que eu armazenei água em balde. Isso é anti-higiênico, sou uma dentista, moro num bairro bom, tenho caixa d’água e não guardo água em balde e panela. Achei absurdo o que fizeram com meu depoimento. A única coisa verdadeira que colocaram sobre mim foi meu nome e minha profissão.”
O detalhe que explica a distorção da matéria foi o fato do então diretor de redação do Estado de S. Paulo, Augusto Nunes, morar em um dos locais onde houve corte de água e, por isso, ter encomendado a matéria. Ou seja, interesses pessoais sendo pautados.
A repórter também foi ouvida pela pesquisadora. Ela afirmou que realmente não era a maioria dos moradores que reclamava da falta de água. Tânia tentou justificar sua falta de ética com o seguinte desabafo: “Eu não queria fazer esse tipo de coisa. Mas se a gente não fizer, outro vem e faz. Somos perfeitamente substituíveis”. Será que concorrência é motivo para passar por cima de princípios éticos?


"(...) acontece que o jornalista é um formador de opinião, e isso dá para ele o poder de criar verdades aparentes. Como não gosto de estar submetido a este tipo de lógica, eu ainda tenho receios ao colocar a imprensa como confiável."
Motorista, ensino médio completo, 40 anos


Formadores de opinião – é um grande poder e uma grande responsabilidade nas mãos do jornalista. E “jogar isso janela à fora” com objetivo de passar a frente dos demais, não justifica a quebra do compromisso que o jornalismo tem: garantir a sociedade um dos seus direitos fundamentais, o direito à informação. E uma informação que seja clara, objetiva e dê possibilidades para que o público reflita e se posicione. O papel da imprensa não é homogeneizar a resposta de quem está do outro lado da informação, até por que a recepção não é passiva, ela (ouvintes, internautas, leitores, telespectadores) reage às informações que recebe, e identifica quando algo está errado. É justamente isso que evidencia, e justifica, o mas nas declarações colhidas na pesquisa.
É por isso que a teoria da Agulha Hipodérmica – em que toda resposta deriva de um estimulo, que no caso dos meios de comunicação de massa seriam dados pela audiência vista como uma massa uniforme e amorfa – perde sentido. É perceptível como a comunicação é extremamente heterogênea, cada um tem seu próprio ponto de vista. E a imprensa não determina o que o receptor deve pensar ou como deveria agir. O compromisso é apenas recortar da realidade aquilo que teve maior relevância, durante determinado período.
Para exemplificar vamos voltar ao passado, mais precisamente para o ano de 2008. No dia 29 de março daquele ano uma menina de cinco anos teria sido atirada pela janela por alguém desconhecido. O país parou para acompanhar o caso Isabela Nardoni. A imprensa ficou mobilizada com a história e durante semanas foram apresentados os desdobramentos do fato. A grande cobertura foi julgada como sensacionalista, mas apenas mostrou o que acontecera e em nenhum momento o trato da notícia foi considerado como algo incoerente. A entrevista do pai, Alexandre Nardoni, e da madrasta, Anna Carolina Jatobá, feita pelo jornalista Valmir Salaro, veiculada no dia 20 de abril de 2008 no Fantástico, é a prova viva de que não houve uma manipulação da verdade. Durante a entrevista o jornalista não tentou encurralar os possíveis culpados pela morte da menina, o motivo é simples: os entrevistados tinham muito a dizer e o comportamento que eles tiveram enquanto respondiam os questionamentos de Salaro dizia ainda mais sobre o caso. A imprensa não os julgou, não os tratou como culpados em nenhum momento, apenas levou a informação e deixou o público formar a própria opinião. De volta a março de 2010, o caso Isabela Nardoni novamente está em pauta. O julgamento do casal Alexandre e Anna Carolina está sendo amplamente divulgado e discutido nos meios de comunicação. As opiniões continuam divididas e até agora nenhum posicionamento por parte da mídia induziu alguém a os considerar culpados ou inocentes.
Outro caso que serve como exemplo é a investigação recente dos “funcionários fantasmas” no Paraná, um serviço que a imprensa presta a comunidade. Como citou Victor Barone, nas palavras de Karl Marx (“Verbas oficiais e a mídia alternativa”, 10/2/2009, no Observatório da Imprensa): “A função da imprensa é ser o cão-de-guarda, o denunciador incansável dos opressores, o olho onipresente e a boca onipresente do espírito do povo que guarda com ciúme sua liberdade”.
No entanto, parece que o público lembra mais facilmente das falhas jornalísticas, do que dos acertos: como é fácil lembrar do debate veiculado no Jornal Nacional entre os candidatos a presidência Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Collor em 1989, em que a edição favoreceu uma das partes envolvidas; e dificilmente recordamos de algo recente como a cobertura da última eleição presidencial feita pelo mesmo jornal, que foi premiada internacionalmente com o Emmy de Jornalismo.
A grande pergunta, na verdade, se coloca no que mantém a imprensa enquanto algo concreto, instituído como tal. Essa diversidade, essa liberdade dada ao receptor para formar a própria opinião se resume em um dos tipos de recepção apontado por John Thompsom em seu livro "A mídia e a modernidade, uma teoria social da mídia": a negociação. O que faz da imprensa uma impulsionadora de pensamentos divergentes sobre determinado tema é justamente a relação de troca que há entre o que se emite e o que se entende sobre a questão exposta. Tomando Cuba como referência: um país em que há um único jornal para levar todas as informações para todas as pessoas. Seria possível acreditar no que consta nas páginas do jornal? Um único olhar sobre o fato coloca a publicação como verdadeira e não maquiada? É esse o ponto chave do constante mas na pesquisa. Não é a singularidade imposta que os jornalistas procuram levar para o público, são as divergências que constroem um ponto de vista. A informação se torna um jeito de ler o mundo, e compreendê-lo.
O jornalismo acaba se tornando um espelho da realidade e a preocupação de quem se coloca como mediador é justamente tornar o fato acessível a todas as classes, de maneira imparcial. Se isso não acontece sempre, a razão é a mesma pela qual os médicos não salvam todas as vidas, é a mesma que leva os advogados a perderem uma causa, e assim por diante. Comunicar é o trabalho dos jornalistas, não esquecendo que eles são seres humanos e têm o direito de errar, e muitas vezes erram, mas possivelmente tentando acertar.


“Acredito na imprensa, mas tenho plena consciência de que muitas vezes ela comete equívocos ao transmitir certas informações. Claro, o erro não pode se tornar uma regra.”
Estudante de publicidade, 21 anos


Assim sendo, a credibilidade da imprensa está ligada ao que a recepção entende das publicações veiculadas, recepção que não é alienada como acreditam certos comunicadores, basta prestar a atenção nas respostas dos entrevistados. E se faltou a opção do depende na pesquisa, a culpa também é da constante dependência do comportamento de quem lida com a informação. Tudo não passa de uma questão de depende: do tempo, da responsabilidade do jornalista, do veículo, da qualidade e das decisões do profissional que estudou para cumprir o seu papel de formador de opinião e de mediador da informação, da conduta ética escolhida pelo jornalista ao avaliar os critérios que o levam a informar determinado assunto, e principalmente como este trata a notícia tendo como base a recepção. Portanto, melhorar a qualidade do material jornalístico deve ser uma operação conjunta, onde o jornalista se esforça para realizar o seu trabalho de forma cada vez mais aprimorada, em contrapartida, a população reconhece isso e dá aos profissionais da comunicação os créditos que merecem.

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Referências Bibliográficas:

THOMPSOM, John B. A mídia e a modernidade, uma teoria social da mídia. Petrópolis - RJ, Editora Vozes, 1998.
REGO, Francisco Gaudêncio Torquato do. Comunicação Empresarial/Comunicação Institucional. Conceitos, estratégias, sistemas, estrutura, planejamento e técnicas. Editora SUMMUS, São Paulo/SP, Brasil, 1987
BUCCI, Eugênio. Sobre Ética e Imprensa. Companhia das Letras, São Paulo/SP, 2000.
CHAPARRO, Manuel Carlos. Pragmática do Jornalismo. Editora Summus, São Paulo/SP, 1994.


Referências Webgráficas:
BARONE, Victor. Verbas oficiais e a mídia alternativa. Disponível em: . Acesso em: 22 mar. 2010.
WEIS, Luiz. Confiança na mídia é maior no exterior. Disponível em: . Acesso em: 23 mar. 2010.
CASTILHO, Carlos. Pesquisa mostra baixa credibilidade dos jornalistas nos três poderes da democracia. Disponível em: . Acesso em: 20 mar. 2010.
LIMA, Edson. Confiança na imprensa. Disponível em: . Acesso em: 23 mar. 2010.
CAMACHO, Leonardo. Os jornalistas assessores. Disponível em: . Acesso em: 23 mar. 2010.
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Texto escrito pelas acadêmicas de Jornalismo Jéssica Carolina Moreira, Marcele Antonio e Nathália Sartorato.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

O buzão nosso de cada dia

Segunda-feira é sempre um dia indesejável. É sinal de que o fim de semana já acabou e está o mais longe possível de chegar novamente. A cansativa rotina de atividades precisa ser retomada, mas a disposição não é lá aquela coisa. Você quer dormir até mais tarde e trava uma briga de aproximadamente 15 minutos com o despertador e quando se dá por vencida percebe que já está atrasada e aí começa a correria! É escova de cabelo em uma mão, café na outra, a primeira roupa que aparecer no armário, uma escovada rápida nos dentes e pronto. Você olha para o relógio e constata que tem apenas cinco minutos para subir (e que subida!) até o ponto de ônibus. Começa uma espécie de meia maratona particular de quatro quadras, com tempo limitado para completar o trajeto. Seu sedentarismo pesa muito nessas horas. Quando o objetivo parece estar próximo de ser concluído o seu ônibus passa descaradamente na sua frente e ainda faz questão de dar uma “buzinadinha” para você ter certeza que ele vai embora sem te esperar.

Seu atraso agora já alcançou os limites toleráveis e você consegue visualizar a bronca que levará do seu chefe. Já que nada mais pode ser feito você senta, arruma os cabelos novamente e espera pelo próximo ônibus. Como de costume, chega uma velhinha e ela puxa assunto sobre o “tempo”. Você responde, educadamente, as mesmas coisas que sempre respondeu a respeito do tema. Depois de 15 minutos o ônibus chega. Lotação seria um apelido carinhoso para ele. É humanamente impossível que mais alguém entre! Mesmo assim você realiza a façanha e vai colada ao vidro da frente, batendo um papo com o motorista.

Quando chega ao terminal você leva cinco minutos só para sair do ônibus. Tempo necessário para perder o outro ônibus também. A essa altura você já começa a planejar detalhadamente a cena do acidente que contará ao seu chefe. O próximo ônibus chega e você, felizmente, consegue sentar-se. A felicidade dura pouco, pois o pior ainda estava por vir. Dois minutos depois alguns garotos entram e sentam atrás de você, com o volume do celular no máximo e ouvindo músicas de um péssimo gosto. Algo do tipo “Pra pará de pé é muita treta vixi, é muita treta vixi...”. São 15 minutos de tortura mental. Um fone de ouvido nunca foi tão bem-vindo!

Você chega ao destino e recebe a melhor notícia do dia: o chefe ainda não chegou. Um suspiro de alívio escapa, seguido de um sorriso. Agora você tem as próximas oito horas do dia para se recuperar psicologicamente do tortuoso trajeto. Até porque, amanhã começa tudo de novo.
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Minha primeira crônica! :)

 
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