quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Um sorriso bem brasileiro

Muito trabalho, pouca educação, mas uma simplicidade e felicidade que dão inveja! Dona Edenir é um personagem quase invisível da vida de vários brasileiros.



O Condomínio Residencial Rio Verde se localiza na Vila Tolentino, bairro de classe média de Cascavel. Apresenta oito blocos, de quatro andares cada, com dois apartamentos por andar, cujo acesso se dá apenas através de escadas. São mais de 120 moradores que entram e saem todos os dias. A difícil tarefa de manter todos os ambientes limpos pertence a uma mulher simples, de meia-idade, que usa sempre os cabelos escuros presos e uma roupa básica, como camiseta e short jeans. 

Dona Edenir, como é chamada pelos moradores, trabalha como zeladora no Condomínio a seis anos. Está sempre com a vassoura na mão e um sorriso no rosto. Dificilmente se queixa de algo, mesmo nos dias mais quentes, chuvosos ou quando a criançada faz aquela sujeira.
Edenir Vaz da Luz e seus oito irmãos nasceram em Campo Mourão, cidade com cerca de 90 mil habitantes. A infância não traz boas lembranças. A vida sempre foi muito difícil. “Meus pais sozinhos não davam conta de criar os nove filhos, então eu e todos os meus irmãos começamos a trabalhar desde pequenos.” A educação ficou prejudicada e ela completou apenas a 5ª série. “Meus irmãos tiveram mais sorte que eu e hoje alguns são até formados.”

Há 16 anos ela, os quatro filhos e o marido - o Seo Alcebíades, que também trabalha no Condomínio prestando serviços de jardinagem; mudaram-se para Cascavel na esperança de ter uma vida melhor. Aqui ela trabalhou como diarista em diversas casas de família. “Todos os dias eu tinha alguma casa para limpar. Às vezes era no Guarujá, outras vezes no Centro ou na Neva. Não sobrava nenhum dia da semana livre”. Na época o salário mínimo girava em torno de R$400,00 e ela conseguia tirar um pouco mais que isso por mês. Para uma família com seis pessoas a renda passa longe de ser ideal, mas ela não se queixa. “As famílias sempre eram muito boas e com o que eu ganhava dava para sustentar a casa”.

Apesar de não reclamar dos anos de diarista, ela confessa que prefere o trabalho de zeladora. “É mais tranquilo e a maioria das pessoas aqui é gente boa”. É, mas infelizmente a maioria não são todos. Dona Edenir se entristece ao falar da discriminação que sofre por parte de alguns moradores. “Muitas pessoas não valorizam os profissionais da limpeza. Às vezes olham pra gente com um ar arrogante, como se a gente fosse inferior a eles. Outros nem sequer cumprimentam.”

Os olhos se encheram de lágrimas quando ela relembrou um dos casos que mais a magoou em todos estes anos de serviços prestados ao Condomínio. “Foi bem constrangedor quando alguns objetos que os moradores deixavam na porta dos apartamentos começaram a sumir e eu fui a primeira pessoa que eles culparam. Esse tipo de coisa é que deixa a gente chateada”.

A profissão exercida hoje não era a que ela sonhava em seguir quando era pequena. “Eu queria ser professora para ajudar as crianças a ter uma educação melhor, para que elas não ficassem nas ruas correndo perigo.” Como não pode realizar esse sonho, ela se dedica à educação dos dois netos, uma menina e um menino. “A gente sempre tenta fazer de tudo pra que eles tenham uma educação melhor do que a nossa”.

Aos 53 anos de idade, Dona Edenir se diz uma pessoa feliz com a vida que leva. “Tenho minha casinha e com o salário de zeladora dá pra criar a família. É claro que eu mudaria muita coisa se pudesse, mas desse jeito está bom”.

O trabalho para ela é como uma terapia. “Faz bem até pra minha saúde. Antes eu ia no PAC uma vez por semana tomar injeção para controlar a pressão, mas depois que comecei a trabalhar eu só precisei voltar lá uma única vez.”

Assim como a maioria dos brasileiros, ela e a família não possuem plano de saúde e reclamam do atendimento prestado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em Cascavel. “A saúde aqui é bem precária, ainda tem muito o que melhorar.”

Outra coisa que ela também acredita que pode melhorar na cidade é a limpeza das ruas. “Acho tudo muito sujo”. E olha que disso ela entende. Afinal, quando não está trabalhando no Condomínio está trabalhando em casa. “Nos finais de semana minhas filhas me ajudam e a gente faz uma faxina, limpa tudo lá em casa.”

Mesmo com o sorriso estampado no rosto, Dona Edenir não esconde o desejo de se aposentar. “Ainda preciso de mais cinco anos de trabalho com a carteira assinada. Depois disso vou curtir bastante meus netos, ver eles crescendo”.

É, mas se os anos custam a passar, os minutos que ela gentilmente cedeu para esta entrevista passaram rápido demais. “Preciso voltar ao serviço agora, se não não dou conta de terminar tudo hoje”, disse ela, um pouco sem jeito por ter que encerrar a conversa.

E lá foi a Dona Edenir, carregando o balde em uma mão, a vassoura na outra e sustentando sempre um sorriso no rosto. Sorriso este que marca uma vida cheia de dificuldades e muito trabalho, mas que ao mesmo tempo revela uma felicidade e simplicidade tão verdadeiras que causariam inveja em muita madame por aí, que costuma não perceber a vida que se esconde por trás destes personagens invisíveis do nosso dia a dia.

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