terça-feira, 27 de julho de 2010

A desconhecida ética policial

Nos últimos meses ouvimos com bastante frequência as pessoas comentando sobre as Olimpíadas de 2016, que serão realizadas no Rio de Janeiro. Aparentemente, a notícia agradou a boa parte da população brasileira, mas deixou com uma sensação de medo e insegurança diversos outros países. O motivo para isso é uma velha conhecida da cidade “maravilhosa”, a tal da violência, que já se tornou nosso “cartão-postal”. 

Essa imagem negativa que o Brasil possui lá fora é completamente justificada pela interminável guerra do tráfico que se manifesta nos morros cariocas e que a cada ano contabiliza mais mortes de inocentes. Em meio a esse cenário de batalha entre bandidos e policiais é necessário levantar uma questão: até que ponto podemos confiar nos serviços prestados pelos policiais militares do Rio de Janeiro para garantir a segurança de todos durante e depois das Olimpíadas? Afinal, policial que se sujeita a vender armas para traficantes, que negocia com eles em troca de dinheiro e drogas e que, até mesmo, comanda o tráfico nos morros não está a serviço de outra pessoa a não ser dele mesmo.

Ética é o valor que esses profissionais ainda desconhecem e isso precisa ser mudado, começando pela sua formação inicial, onde muitas vezes são orientados por pessoas sem qualificação alguma, que são escolhidas pelo critério da amizade e do favor e que não estão preparadas para a responsabilidade que é formar “defensores de uma sociedade”. É inadmissível que a polícia que mais mata no Brasil ofereça apenas 12 horas de “Ética e Direitos Humanos” na formação básica, o que corresponde cerca de 1% das 1.160 horas de instrução.

Mas, indiferente a esse fato, a ética deveria ser uma qualidade inerente a qualquer profissional, principalmente aqueles que têm o dever constitucional de preservar a ordem pública e a incolumidade das pessoas, respeitando a integridade física, moral e psíquica do condenado ou ainda de quem seja objeto de discriminação e agindo com isenção, equidade e absoluto respeito pelo ser humano, não usando sua autoridade pública para a prática de arbitrariedade, como está previsto no Código de Ética dos Policiais.

Infelizmente, não é essa postura que observamos. Situações em que policiais militares cometem atos de corrupção e abusos de poder são assustadoramente comuns. Se aqueles que deveriam servir às leis em defesa do cidadão estão infringindo elas, quem garantirá a nossa segurança?

Para reverter esse quadro é preciso atingir a raiz do problema, que é o nosso sistema político e governamental. A falta de ética parece agir como um vírus se espalhando rapidamente e contaminando a todos, até mesmo aqueles que se diziam imunes. Parte dos superiores para os subordinados, e assim afeta todas as classes de poder da sociedade. Falta de ética na polícia recebe outro nome, esperteza. E é justamente essa esperteza que suja o nome do Brasil. Ou você acha que os demais países consideram um ato realmente esperto tirar a vida de inocentes, financiar todas as causas da violência e promover uma guerra diária? A presença dos policiais militares nos morros cariocas causa mais medo à população do que a ausência deles, até mesmo porque essa presença já está associada a tiroteio, balas perdidas e mais inocentes mortos ou feridos. Imaginem então como os estrangeiros vão se sentir durante as Olimpíadas, com essa imagem persistente que eles têm da falta de segurança brasileira.

A situação da violência precisa ser resolvida agora. A população não pode esperar por mais seis anos! Se isso não começar a mudar hoje o Rio de Janeiro não terá condições de receber um evento internacional desse porte. Precisamos de policiais inteligentes, humanos e éticos que tenham como único objetivo estar a serviço do cidadão e garantir a sua segurança. Acho que isso não é pedir demais.

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